Três rostos familiares e um recém-chegado contam como foi compor para o mundo da Aloy.
Na semana passada, finalmente pudemos conferir pra valer o que está à nossa espera, assim como à espera da Aloy, em Horizon Forbidden West. A Guerrilla nos deu um vislumbre das novidades na mecânica do jogo, das máquinas inéditas a superar e dos lugares novos a explorar. Junto à amostra visual, houve uma breve, porém fascinante, introdução da trilha sonora do jogo. Hoje podemos falar dessas composições.
Em primeiro lugar, vamos mencionar a oportunidade de curtir as quatro faixas apresentadas na demo do State of Play, que formam o EP The Isles of Spire: confira ele aqui.
Em segundo lugar, é com muita alegria que anunciamos os compositores responsáveis pela música de Horizon Forbidden West. Joris de Man, Niels van de Leest e a dupla The Flight, que já colaboraram no Horizon Zero Dawn, uniram-se a Oleksa Lozowchuck nesta sequência.
Ao lado de Lucas Van Tol, o supervisor musical da Guerrilla, os compositores são o foco de uma mesa redonda incrível, e você pode assistir à conversa abaixo. Nesta discussão em duas partes, os músicos traçam a criação da paisagem sonora única da franquia, desde os conceitos iniciais de Horizon Zero Dawn em 2017 à elaboração da música que entoa a nova aventura da Aloy e a exploração de uma nova fronteira em Horizon Forbidden West.
Eu também tive a oportunidade de conversar com o grupo. Esse bate-papo abrangente abordou, entre outras coisas: os desafios de fazer a ponte com o que veio antes, designar quem fica responsável pelo quê (segundo Van Tol, é uma trilha sonora maior do que a anterior), e os métodos individuais de composição (curiosidade: um dos compositores faz seus próprios instrumentos). Continue a ler para saber mais.
A reunião de todos os integrantes
O debate em torno da música da sequência começou “desde o momento que soubemos que haveria outro [jogo]”, brinca Van Tol.
O supervisor musical da Guerrilla não só é responsável por definir quais aspectos da música de Horizon Forbidden West em que cada um dos quatro compositores trabalharia, mas também por monitorar tudo. Afinal, seria uma empreitada hercúlea criar a paisagem sonora do mundo aberto da sequência, incluindo (mas não só) tribos, personagens, inimigos, localizações, deixas, além do desafio de retomar e evoluir o que já havia sido feito. Fazia sentido dividir os esforços. Van Tol foi tanto um mestre de cerimônias quanto um líder, instruindo e guiando o grupo ao longo da produção. Ele também queria uma abordagem diferente à composição do jogo. “Em Horizon Zero Dawn, nosso foco inicial era em localidades”, explica. “Desta vez, queríamos seguir a narrativa mais de perto e criar uma experiência mais fluída e emocional, tanto dentro como fora das cenas.”
A colaboração anterior ajudou Van Tol a decidir a melhor forma de seguir em frente. Alexis Smith, do The Flight, observa que Van Tol tinha uma perspectiva importante do estilo e dos pontos fortes de cada compositor. “Ele geralmente tem uma visão bem definida de que partes ele gostaria que compuséssemos”, diz Smith. Então Joris de Man trabalhou em deixas emocionais “não específicas a uma área”, enquanto Niels van der Leest ficou responsável (assim como já havia sido no original) pela música percussiva em determinados eventos, como caçadas, e pela música de cada região tribal do jogo. Havia exceções: arcos de personagens, como cenas e missões cruciais, foram atribuídas a um compositor específico para assegurar a continuidade temática.
A alçada do Oleksa Lozowchuck foi mais ampla, responsável por “todos os tipos”. “Isso realmente me ajudou a desenvolver um senso mais forte do quanto os diferentes tipos de música interagiam entre si, na dinâmica ao longo da narrativa.” Sem dúvidas, ele tinha um bom ouvido para esse mundo desde o início. Lozowchuck, um veterano da indústria que trabalhou na Capcom Vancouver por sete anos, entrou para o elenco de compositores após impressionar a equipe com suas composições na audição.
Dito isso, ele conferia o trabalho dos outros compositores com frequência para garantir a coesão. E os outros faziam o mesmo. Como cada um mora em um país diferente, as formas mais rápidas de fazer esse acompanhamento eram chamadas em grupo e um drive compartilhado na nuvem. Tais ferramentas deram uma orientação e, durante as pausas forçadas devido ao Covid, também foram uma oportunidade de se conectarem uns com os outros. “Levamos nossos equipamentos para casa e continuamos a trabalhar de lá”, lembra Alexis. Compartilhar também levou a colaborações inesperadas. “The Flight acabou reutilizando e remixando as vozes de uma das minhas composições de coral em 9 partes, que escrevi para uma das tribos do jogo”, relembra Oleksa. “Eles usaram as vozes à sua própria maneira para complementar outra cena em um contexto totalmente diferente.”
Conheça os artistas por trás da música de Horizon Forbidden West. Da esquerda para a direita: a dupla de compositores The Flight (Alexis Smith, Joe Henson), o líder de Áudio da Guerrilla, Bastian Seelbach, o Supervisor Musical da Guerrilla, Lucas Van Tol, e os compositores Oleksa Lozowchuk, Niels van der Leest e Joris de Man.
Temas Familiares
Assim como os outros, Lozowchuck recorreu à trilha sonora original para ter uma perspectiva do mundo da Aloy. The Flight revisitou as sessões de gravação originais para recordar o processo, enquanto Joris de Man analisou as próprias composições para “entender o que fez aquelas faixas funcionarem”.
Sob a perspectiva de um observador, pergunto ao Oleksa o que ele achava que tornou aquelas composições tão especiais. “Tinham uma ótima mescla de elementos distintos”, responde. “Eram brutas, mas ricas ao mesmo tempo. Havia fontes orgânicas e elementos percussivos misturados com um octeto de cordas agradável, apoiados e ampliados por um sub-baixo profundo, sobrepostos por nuances intimistas, como a flauta contrabaixo e alusões ao monólogo interior da Aloy, cantadas por Julie Elven. O equilíbrio me pareceu ideal.” Por sua vez, ele analisou o que em seu trabalho poderia “complementar e delinear” a obra anterior, fez variações e fragmentos de temas passados, enquanto também criava novas batidas tocantes para os jogadores.
Os outros compositores insinuam que vamos ouvir temas do original. O tema da Aloy é um deles, “embora adaptado ao novo jogo”, confirma Joris de Man. Como essa faixa capta a crescente confiança da Aloy ao longo do primeiro jogo, pergunto como ela pode evoluir ainda mais enquanto mantém aquela sonoridade já familiar. “Este é um dos aspectos mais interessantes da sequência para mim”, responde.
Para os três compositores que colaboraram no original, foi empolgante buscar novidades para complementar um mundo com um DNA musical definido por eles próprios. “Sabíamos que era um território sonoro novo, que não poderia ser mais do mesmo do jogo anterior”, admitiu Joris de Man em relação ao desafio. Eles buscaram inspiração no mundo real e na própria Aloy. “Líamos a história que sustentava a narrativa das partes de Horizon Forbidden West em que estávamos trabalhando”, van der Leest diz ao retomar o fio da meada. “E tentávamos encontrar semelhanças no nosso próprio histórico musical para então destilar criações a partir daí.” Oleksa acha que a equipe conseguiu harmonizar muito bem a música original com a nova. “O objetivo nunca é alienar aqueles que adoraram o primeiro jogo, mas sim dar a eles uma oportunidade de explorar e se aventurar pela sequência.”
Dualidade e equilíbrio estão no âmago do trabalho dele no Horizon Forbidden West, que é dedicado à música que “fornece uma sensação extremamente pessoal e íntima, mas também épica e poderosa”. “Eu sempre tive em mente o som intimista que a Guerrilla tinha como meta. Tive de lidar com isso quase como um mix hiperbinaural, em que você ouve e sente a madeira, a essência e o ar dos instrumentos tocados. Às vezes, parecia que eu estava fazendo gravações ASMR, mas com acordes sentimentais ou texturas que flutuavam. Embora houvesse um forte foco em manter um som intimista, estávamos sempre envolvendo-o com nuvens (não, tempestades!) de reverb infinito. Eis o paradoxo da parte macro e micro”.
Em busca do novo som
Pergunto se havia alguma coisa que não era permitida ou pouco alinhada com a paleta sonora do jogo. Mais uma vez, todos apontam Lucas Van Tol como o responsável por manter tudo sob controle. “Ele nos dava feedback quando enviávamos composições, tipo ‘não use esse instrumento porque remete a outra tribo’, elabora Joris de Man. “Use algumas dessas texturas ou ouça o que um dos outros compositores já fez para ter uma ideia da atmosfera dessa área.”
O compositor esclarece outros pontos. “O foco principal era criar texturas e sons orgânicos que se alinhavam à estética do mundo de Horizon Forbidden West, ao mesmo tempo que evoluía a partir do som concebido para Horizon Zero Dawn. Ou seja, agora temos um pouco mais de sintetizadores e texturas sintéticas que complementam os tons orgânicos do que tínhamos no jogo anterior.” Quanto a van der Leest, ele sempre tem a nossa protagonista em mente. “Para mim, era crucial sempre ver o mundo pelos olhos da Aloy. Mais uma vez, ela tem uma tarefa difícil para realizar, que influencia o modo como se vê o mundo ao redor dela.”
Um fato interessante surge da pergunta: além da procura por instrumentos pouco conhecidos e da pesquisa por quais deles retratavam melhor cada tribo, Niels van der Leest construiu seu próprio mundo para se aprofundar ainda mais no mundo da Aloy. “As pessoas naquele mundo não têm ideia alguma da nossa sociedade”, disse ele. “Sendo assim, eles criam os próprios instrumentos do zero e, muitas vezes, não são nada parecidos com o que o nosso mundo já viu.”
Todo mundo tem um processo criativo próprio. Joris de Man toca o piano ou testa uns truques diferentes, como usar palheta em um violino com papel entre as cordas. Afinal, por que não? Ele menciona que a paleta dele está mais agreste e bruta desta vez, um estilo que reflete o Oeste Proibido, “um lugar mais perigoso com outras incertezas à espera”.
Van der Leest tira um dia de folga do estúdio e do teclado para garantir que esteja com a cabeça fresca antes de começar uma região nova. The Flight envolve a área de trabalho deles com imagens do tópico em questão para ganhar inspiração. Oleksa apresenta uma lista impressionante de instrumentos, incluindo fontes orgânicas, instrumentos percussivos indígenas e fontes sintéticas que ele está usando para criar o cantinho do mundo atribuído a ele. Eu tive que pesquisar a maioria dos instrumentos no Google depois. “Tento ouvir o fluxo e o refluxo da energia que permeia todas as melodias, harmonias e texturas em níveis de escuta distintos, a fim de assegurar que ainda esteja prendendo minha atenção até eu atingir o ponto de saturação. Após ouvir o bastante para lançá-la, posso seguir em frente.”
Uma trilha sonora incomparável
“Uma das coisas que a equipe compositora conquistou em Horizon Zero Dawn e da qual me orgulho foi que a música parecia pertencer àquele mundo naturalmente. As pessoas ouviam as músicas e pensavam que eram exatamente assim que deviam soar, que davam a sensação de serem inerentes ao mundo de Horizon”, diz Joris de Man sobre o sucesso em trazer à vida uma paisagem sonora inconfundível em 2017. Van der Leest partilha da mesma percepção. “Esta foi uma das partes mais empolgantes de criar a música. Criar um som que, de alguma forma, soasse familiar, mas que não fosse necessariamente óbvio. Claro que tem instrumentos reconhecíveis, mas a combinação com outros instrumentos incomuns e elementos eletrônicos deu um caráter novo e revigorado.”
Durante a discussão, foi mencionado que, no jogo original, a abordagem era conceber uma trilha sonora incomparável. Os compositores mantiveram essa ideia na sequência. “A mesma proposta, mas diferente”, diz Alexis em relação ao elo entre o original e este projeto. Oleksa chama os resultados de “alquimia sonora”. “Neste projeto, usei vozes humanas para criar sons não humanos e instrumentos acústicos para imitar vozes e falas humanas”. Tudo foi revigorado para o retorno a esse mundo e à expansão da sua paisagem sonora. Niels van der Leest resume muito bem: “Horizon Forbidden West é um projeto especial porque desafia você a abrir a mente para outras possibilidades o tempo todo. Fazer a música deste jogo é uma experiência única.”
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