Semana passada na Coletiva de Imprensa de PlayStation na E3, um dos destaques da noite foi a participação de David Cage, da Quantic Dream, finalmente revelando sua próxima obra-prima. BEYOND: Two Souls para PS3 impressionou o mundo com seus gráficos extremamente realistas (rodando em tempo real no mesmo hardware lançado há mais de cinco anos) e performances convincentes de atores reais, incluindo a talentosa atriz de Hollywood Ellen Page. A esta altura, você já deve ter assistido ao trailer de estreia dezenas de vezes, mas o jogo não estava disponível para teste no evento. Felizmente, pudemos testemunhar o poder deste suspense psicológico interativo em uma apresentação privada de 20 minutos na qual o produtor Ray Khalastchi, da XDev Studio, demonstrou o jogo rodando no PS3 – caso ainda não estivéssemos acreditando que isso fosse possível.
A demo consistia de cinco áreas conectadas por uma narrativa de tira o fôlego, todas exibindo as virtudes da nova engine gráfica, incluindo performances extremamente realista dos atores obtidas por meio de captura total de atuação. Claro, os detalhes da história ainda estão sendo mantidos em segredo, mas tentamos tirar algumas informações de Ray Khalastchi. “[Neste ponto no jogo,] Jodie tem 23 anos de idade e está fugindo das autoridades há duas ou três semanas”, explica, sem dizer o motivo para a fuga, mas isso define o tom para a demo que estamos prestes a conferir.
No Trem
Dentro do trem, Jodie Holmes está tentando dormir com um capuz na cabeça, certamente tentando não chamar atenção. Logo em seguida estamos controlando Aiden, a entidade etérea conectada a Jodie – você pode notar essa conexão espiritual imediatamente, representada por uma luz azul entre os dois. Em primeira pessoa (você nunca vê a aparência de Aiden), você pode vagar pelo local realizando movimentos com o Sixaxis. Aproveitando-se do fato de que você é invisível para os outros passageiros, você pode assustá-los interagindo com objetos indicados por um brilho laranja. Você pode até atravessar as paredes do trem para apreciar a chuva do lado de fora, mas não pode se afastar muito de Jodie – sua visão começa a ficar embaçada, explica Ray, e eventualmente fica em preto e branco. Aiden está ligado a Jodie. “[Sua visão como Aiden] também muda de acordo com a situação em que Jodie se encontra. Se ela estiver assustada ou em perigo, isso irá afetar a sua visão”.
O trem eventualmente para em uma estação cheia de policiais. Você pode sair e tentar escutar a conversa deles para descobrir o que está acontecendo, ou pode ir para onde quiser – aliás, as luzes das viaturas na noite chuvosa dão uma ideia dos truques visuais que a equipe da Quantic Dream está extraindo do PS3. Enfim, é interessante notar que você não “aciona” eventos com a sua presença, tudo acontece em tempo real. As pessoas continuam conversando ou fazendo o que estão fazendo independentemente de você estar lá ou não, então é preciso escolher com cuidado o seu próximo passo.
Dois policiais sobem a bordo do trem e fica imediatamente claro que eles estão procurando por Jodie. Você precisa avisá-la de alguma forma, e faz isso interagindo com a garrafa perto dela para acordá-la. Ao notar que a garota está tentando evitá-los, os policiais percebem que se trata de Jodie e uma perseguição se inicia. Agora você controla Jodie diretamente tentando escapar pelos corredores, e isso é algo que Ray faz questão de enfatizar, diferente de Heavy Rain, no qual você simplesmente realizava comandos indicados na tela nas cenas de ação. Não que não existam comandos na tela no novo jogo; aqui, eles também determinam o desfecho das cenas. “Se eu fosse pego, seria preso e colocado em uma dessas salas. Então teria que descobrir uma forma de sair do trem”, explica Ray. “Não há tela de Game Over, o jogo sempre continua.”
Encurralada dentro de um banheiro, Jodie tem uma ideia: sair pela abertura no teto. Mas ela não é forte o suficiente para abri-la, então cabe a Aiden fazer isso. Em cima do trem, novamente controlamos Jodie diretamente, e mais uma vez ficamos impressionados com a cena exibida na tela: Jodie se move com cuidado sobre a superfície molhada, com suas roupas encharcadas pela chuva, cambaleando por conta do vento forte, com as luzes dos postes lembrando você do quão rápido o trem está se movendo, e a expressão de ansiedade de Ellen Page passando uma perturbadora sensação de perigo.
A garota tenta fugir dos policiais que também estão subindo no trem, mas é cercada por três deles. Uma luta brutal acontece em seguida, mas, apesar de ser atingida algumas vezes, Jodie parece saber como se livrar deles. “Para esta parte, contratamos um grupo especializado em artes marciais para encenar a coreografia e capturar os movimentos”, afirma Ray. “Em seguida, aplicamos os dados aos personagens na cena”.
Percebendo que os policiais ainda estão atrás dela, Jodie pula do trem e, com uma sequência de comandos bem sucedida, Aiden a protege com um escudo para que ela aterrisse em segurança.
Na Floresta
“Você pode nos contar por que ela é tão habilidosa?”, perguntamos. Ray apenas sorri e balança a cabeça negativamente, provavelmente feliz por nos deixar com essa dúvida. Jodie agora está em uma floresta, levantando do chão com uma expressão que mistura alívio e cansaço. Mas, assim que ela começa a se mover, um helicóptero ilumina a área e luzes são apontadas para ela. Furiosa pela insistência dos policiais, a garota solta um palavrão e corre para dentro da floresta.
É possível ouvir o latido de cães não muito longe conforme Jodie tenta passar por troncos e galhos – de novo, por meio de uma combinação de controle direto e Quick Time Events. “Se você falhar repetidamente, Jodie pode morrer?”, insisto na pergunta. É uma dúvida que fica martelando minha cabeça, já que em Heavy Rain às vezes você tem que lidar com as trágicas (e permanentes) consequências das suas ações. “Não, ela não morre”, garante Ray. “Mas a história continua dentro do contexto de tudo o que acontece. Ela pode ser presa ou nocauteada e acordar mais”.
Jodie se distancia dos policiais, mas ainda é possível ouvi-los não muito longe. Com o controle direto sobre ela, você começa a correr em várias direções diferentes em busca de uma saída. “Jodie está perdida. Você está perdido. Você não sabe para onde ir. Queríamos que você sentisse que estava perdido de verdade”. Se essa é a ideia, ela com certeza funciona.
Os cães alcançam Jodie e uma batalha entre ela e os animais se inicia. “Vocês também capturaram os movimentos dos cachorros?”, pergunto brincando, tentando aliviar a tensão causada pela cena violenta. “Para falar a verdade, sim”, responde Ray, com um sorriso de quem realmente está falando a verdade.
Após se livrar dos cães, Jodie consegue escalar uma parede de rochedos e se esconder dos policiais. Em seguida, enquanto eles apontam suas lanternas para procurá-la, vem a minha cena favorita: a câmera se aproxima do rosto de Jodie e você pode ver claramente as vantagens de combinar o que há de mais avançado em termos de captura de movimento e tecnologia gráfica com uma atriz do calibre de Ellen Page. Dá para ver a expressão de medo em seus olhos nervosos, com pingos de chuva escorrendo por sua pele cheia de hematomas e o cabelo grudado em seu rosto ofegante. “Os hematomas delas são dinâmicos?”, pergunto. “Sim. Por exemplo, quando eu pulei do trem antes, se eu falhasse em protegê-la, ela estaria em um estado muito pior”. Pobre Jodie.
Na Barreira Policial
Jodie escapa dos guardas que estão no seu encalço e agora está no acostamento de uma estrada, onde há uma barreira policial. Controlando Aiden novamente, você examina a situação: há três policiais, dois carros e uma moto. O produtor explica o significado das auras coloridas ao redor de cada pessoa: branco é neutro, laranja quer dizer que a pessoa pode ser possuída e vermelho indica alguém que pode se estrangulado. E é tudo contextual.
Ray vai até o policial ao lado da moto e o possui, passando a controlá-lo diretamente. Nosso guia então faz o policial possuído causar uma confusão com um dos carros para distrair os outros dois policiais. Na apresentação anterior, eu notei que ele fez algo diferente para passar por essa mesma área. “Sim, nesta cena específica, você tem duas opções”, explica Ray. “Após possuir o policial, eu posso entrar no carro e dirigir para trás e para a frente, ou posso pegar a escopeta no porta-malas do carro e ficar atirando para cima. De uma forma ou de outra, os outros policiais serão distraídos e Jodie terá a oportunidade de dar a voltar e pegar a moto.”
“Até mesmo em sequências pequenas nós queremos dar ao jogador um pouco de escolha. Às vezes o desfecho pode não ser diferente, mas se você escolhe o que fazer, você tem a sensação de que essa história é sua”.
Na Moto
“Aqui, estamos controlando a moto, ao passa que em Heavy Rain seria ‘aperte R2 e veja ela dirigindo’”. E, de novo, é incrível ver como o hardware lida com o tipo de iluminação e efeitos exibidos na tela conforma Jodie acelera a moto na noite chuvosa. E estamos curiosos para saber como eles estão equilibrando entre dar o controle ao jogador e contar uma história autoral. “Ainda estamos tentando dar ao jogador o máximo de controle possível e, ao mesmo tempo, manter a ação cinematográfica, o controle estável e a história intacta”.
Perseguida por um helicóptero, Jodie fica encurralada quando chega a uma ponte protegida por um esquadrão da S.W.A.T. Com a ajuda de Aiden, ela passa pelo bloqueio e chega a uma cidade próxima.
Na Cidade
A perseguição atinge seu clímax na frente de um cinema. “Esta parte final da demo é quase como um mundo aberto para Aiden. Há várias coisas diferentes que você pode fazer”, explica Ray. E essa é uma ótima forma de descrever a situação: enquanto Jodie se protege atrás de um carro, você controla Aiden e procura pessoas para possuir ou estrangular e interações com ambiente. Você pode controlar um atirar de elite e eliminar seus parceiros, possuir outro soldado no chão e atirar nos policiais mais próximos e nele próprio, arremessar uma granada com outro soldado e causar um grande explosão, virar carros e… estourar o hidrante? “Algumas coisas que você pode fazer são inúteis”. É, como beber leite em Heavy Rain… Mas é tudo em nome da interatividade.
Conforme o tempo passa, a equipe da S.W.A.T. se aproxima de Jodie, o que significa que eles ficam ao alcance de alguns perigos e ao alcance de Aiden também. Você pode fazer uma torre desmoronar sobre alguns soldados – um detalhe curioso: você consegue ver os espíritos saindo dos corpos deles e subindo no ar.
Após ajudar Jodie a entrar no cinema, você pode possuir o piloto do helicóptero e causar uma enorme explosão, o que nos leva à cena final do trailer de estreia: Jodie se aproxima do líder da S.W.A.T. e grita com tom de ameaça: “Diga pela eles me deixarem em paz, pois da próxima vez eu vou matar todo mundo”. Por fim, ela chama Aiden e se vai dizendo: “Acho que eles entederam o recado”.
Ao final da demo, estamos completamente impressionados pelas qualidades gráficas e narrativas de BEYOND: Two Souls, além de ansiosos para experimentar sua promissora jogabilidade por conta própria futuramente. Ainda há muitos detalhes que não sabemos (Suporte ao PS Move? “É algo que estamos analisando”, diz Ray Khalastchi), mas já é animador ver como a Quantic Dream está tão à frente na corrida tecnológica. Após esta breve amostra, não vemos a hora de descobrir o que está no além.
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