O jogo de plataforma em 2D com visual retrô nos ensina uma lição profunda sobre crescimento pessoal.
Celeste é um jogo sobre acreditar em si mesmo, e a jornada para descobrir do que você é capaz.
Embora possa parecer uma frase forte demais para um jogo de plataforma em 2D com estilo de arte em pixels, jogar podendo extrair uma emoção tão poderosa de um jogo é exatamente o motivo pelo qual Celeste é um dos melhores games de 2018.
Vamos começar com o jogo em si. No fundo, Celeste é um jogo de plataformas de precisão onde seu objetivo é escalar uma montanha. Logo no começo, você aprende dois poderes: uma corrida (pressione quadrado e uma direção) e como escalar paredes (segure L2). Os controles são responsivos e fluidos — você sempre se sente em controle do personagem. Saltar e correr logo se tornam automáticos, o que é importante para um jogo como esse, já que Celeste é difícil.
Logo depois do início do jogo, os jogadores já são colocados em situações de vida ou morte. Buracos sem fundo, espinhos no chão, penhascos intransponíveis e outros obstáculos mortais se juntam para criar uma sensação de ansiedade. “Como é que vou conseguir fazer isso?”, você pode se perguntar.
É aqui que o brilhante design de Celeste fica aparente. Assim que começa a tentar passar por esses obstáculos, você começa a formular idéias de como seria possível.
“Bem, se eu apenas cair aqui e não correr…”
“E se eu usar esta plataforma para dar mais impulso ao meu salto?”
Celeste raramente irá puni-lo por morrer — segundos após falhar, você volta perto do desafio que estava tentando passar, pronto para outra tentativa. Esta intermissão breve, quase instantânea entre tentativas o encoraja a continuar tentando. Você vai morrer muito em Celeste, mas cada morte vem com a sensação renovada de propósito, e não de derrota.
Eventualmente, você consegue passar o que inicialmente parecia impossível e leva a sensação de vitória até o próximo desafio. O jogo faz um ótimo trabalho de colocar mais desafios de movimentação aos poucos, criando um ritmo quase perfeito, usando o que você aprendeu, mas ficando um passo à frente. O resultado é um teste contínuo das suas habilidades, para que qualquer pensamento de derrota seja vencido pela proximidade do sucesso.
Conforme progride no jogo, uma história importante começa a se desenvolver com a personagem principal, Madeline, em sua jornada de escalar o Monte Celeste para fugir de sua vida na cidade. Mas quanto mais ela escala, mais problemas aparecem, causando ela a duvidar de si mesma e se questionar se deveria sequer estar tentando em primeiro lugar.
Personagens inesquecíveis como o Sr. Oshiro, um fantasma proprietário de hotel incapaz de esquecer o passado, ou Theo, um caçador de selfies sem preocupação na vida, cruzam o caminho de Madeline, providenciando conversas e também obstáculos para sua jornada de autoconhecimento. Nossa heroína interage com eles com desconfiança a princípio, enxergando-os apenas como obstáculos e uma perda de tempo em sua jornada. Mas aceitando a ajuda deles, acaba aprendendo mais sobre si mesma.
Assim como Madeline, não pensei na jornada como um todo enquanto estava no meio do caminho. A primeira vez que joguei estava muito focado em terminar os jogo e vencer os desafios. Foi só depois que completei o jogo principal que pude dar um passo para trás e perceber o quanto tinha feito. Passei a jogar os desafios mais duros “Lado-B” do jogo pensando “Ok, isso pode ser possível dessa maneira” em vez de “Isto parece impossível”. Já possuía as habilidades para conquistar esses desafios, bastava descobrir como usá-las.
Um dos elementos que percebi logo no início, é que o jogo grava quantas mortes em cada fase você teve. O meu primeiro pensamento em cada fase foi derrotista: “Ai, morri tanto. Sou péssimo.” Mas após jogar por tudo mudei de perspectiva: cada uma das mortes foi um aprendizado. Comecei a enxergá-las como medalhas de honra por perseverar, em vez de defeitos. É um tipo de pensamento que agora tento aplicar a outras partes da minha vida. E aí está a melhor parte de Celeste — seu potencial de mudar a maneira com que uma pessoa pensa não só sobre um jogo, mas fora dele também.
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