A Obsidian criou uma aventura maluca de RPG para as eras.
Ao entrar em The Outer Worlds, estava pronta para um RPG familiar. Um novato se aventura em terras não exploradas, encontra companheiros, tesouro e muito perigo por todo lado. Depois de Fallout: New Vegas e Pillars of Eternity, achava que já conhecia a Obsidian por completo. Isto é, até que entrei na cidade de Edgewater e conheci pessoalmente os malucos de lá, e sua sociedade capitalista direto de um pesadelo. The Outer Worlds saceia uma fome conhecida dos amantes de aventura e RPG, mas acerta em cheio com seu mundo sci-fi morbidamente hilário.
Descongelada após 70 anos em uma nave perdida, mergulhei de cara em um sistema colonial baseado no bom e velho capitalismo. Do instante que pisei em Terra 2, as pessoas de lá não pararam de me contar como sua vida era maravilhosa, como nunca enjoam da saltuna Spacer’s Choice, e como trabalhar é o que dá sentido às suas vidas. Isso até seria OK, se não tivesse saindo das bocas de operários de fábrica malnutridos, felizes em lembrar você que o suicídio é um crime (por diminuir a força de trabalho, claro!). Todo planeta e comunidade que encontrei era apaixonada por algum aspecto desta filosofia, algumas vezes racional, mas muitas vezes a ponto de não fazer sentido algum. Mas a convicção deles me convencia, apesar do absurdo de suas crenças.
E olha… algumas são bem absurdas. Um pedido de ajuda pode levar à uma comunidade científica onde estão tomando medidas extremas para recuperar pesquisas importantíssimas sobre… pasta de dente. Tive uma conversa com um vendedor da Spacer’s Choice sobre usar o logo de Lua da empresa como uma máscara, que apenas respondia com slogans aprovados pela empresa com cada vez mais angústia. Mais de uma cidade possui encontros com pessoas que acumulam ‘sprats’ (“space rats”, ou ratos espaciais) gigantes em segredo. Até as conversas entre os NPCs vale a pena ouvir para dar umas risadas, conforme as suas ações alteram o equilíbrio da colônia. Gostei demais de testar o absurdo que é diminuir os pontos de inteligência do meu personagem para destravar as hilárias opções de conversação ‘burras’, aumentando muito a comédia do jogo.
Os companheiros de The Outer Worlds possuem comentários interessantíssimos sobre este mundo em colapso. Cada um vem com uma nova perspectiva sobre a loucura que os cerca em nossas aventuras, a ponto de me fazer agonizar sobre quais recrutar. Misturo a consideração honesta de Parvati com o idealismo de Felix? Deixo Vicar Max e Ellie discutirem sem fim sobre filosofia? A atitude dos companheiros em relação à sociedade em decadência de Halcyon traz ótimos pensamentos para todas as missões, muitas vezes reagindo às minhas escolhas pela campanha. Nada me fazia rir mais do que as interações entre a IA da nave, ADA e o robô zelador S.A.M. No fim, o humor dos companheiros face à realidade erma de Halcyon eleva a experiência em The Outer Worlds, e justifica jogar mais de uma vez.
A ironia de ser pedaços de uma máquina esmagadora de almas é que no centro, há um terreno fértil. Os planetas de Halcyon são belos, cheios de plantas e ambientes que deleitam os olhos. As criaturas perigosas de cada ambiente são criadas excepcionalmente bem, até detalhes em imagens anatômicas mostradas nas telas de carregamento. Aproveitei todas as oportunidades de infiltrar um ninho de Primals, ou confrontar Mantiqueens ferozes em Monarch. Cada lugar possui sua personalidade, da destruída cidade de Iconoclast até o luxo brilhante de Byzantium. O mundo aberto de Halcyon é variado mas não tão grande a ponto de ser cansativo, permitindo explorar todos os cantos sem enjoar.
The Outer Worlds entra na estratosfera de aventuras RPG quase perfeitas, e se consolida como favorito com seu mundo estranho e imaginativo, falcatruas capitalistas intergaláticas, e diálogo hilário. A Obsidian criou um mundo maluco que precisa ser jogado de novo e de novo.
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