Desenvolvedores de The Last of Us e criadores da HBO falam sobre a construção do mundo que cerca Joel e Ellie

0 0
Desenvolvedores de The Last of Us e criadores da HBO falam sobre a construção do mundo que cerca Joel e Ellie

Desenvolvedores da Naughty Dog detalham locais importantes de TLOU, como a Cidade do Bill e a zona de quarentena de Boston, e os produtores da série da HBO discutem a adaptação do mundo para a televisão.

The Last of Us conta a história de Joel e Ellie; uma história bastante dinâmica. Ao longo do percurso, a dupla descobre quantas áreas dos Estados Unidos resistiram à pandemia dos cordíceps e entra em contato com sobreviventes e seus acampamentos; alguns ocupam as ruínas de grandes cidades, enquanto outros criaram novas comunidades em áreas suburbanas ou até mesmo na natureza.

O mundo que eles e os jogadores exploram pode ser cruel e imperdoável, mas é repleto de beleza e luz em meio à luta pela sobrevivência. Os jogadores se deparam com dois exemplos distintos, mas claros, de como a vida se transformou no mundo pós-pandêmico no começo da aventura em The Last of Us Part I: a zona de quarentena de Boston e a Cidade do Bill. A dicotomia entre esses locais demonstra que há ameaças humanas e naturais por todo canto e mostra o lado bom da humanidade, que luta para sobreviver no mundo. Com ambos os locais exibidos recentemente em The Last of Us na HBO e retrabalhados em The Last of Us Part I, no PlayStation 5, e disponível em 28 de março para PC via Steam e Epic Games Store, vamos nos aprofundar no que torna esses locais tão essenciais para a jornada de Joel e Ellie e como a adaptação da HBO lidou com a perspectiva dos nossos protagonistas sobre o mundo que os cerca.

Desenvolvedores de The Last of Us e criadores da HBO falam sobre a construção do mundo que cerca Joel e Ellie

Mundo Cruel

Ao jogar The Last of Us, independente de onde a aventura leva você ou dos personagens que você conhece, a equipe se esforçou para contar a história de uma maneira bem específica.

“Nós impusemos a nós mesmos uma regra enquanto criávamos o jogo. Tudo deve ser visto pela perspectiva do Joel e da Ellie, e ponto final, porque queremos que você passe muito tempo com os personagens, indo de um local a outro em tempo real e se tornando eles”, afirmou o copresidente da Naughty Dog, Neil Druckmann. 

Essa perspectiva contribui para como os jogadores são apresentados e informados sobre o mundo e os personagens de The Last of Us. Isso se dá pela forma como a abertura inesquecível de The Last of Us evoca emoções e pelo fato de os jogadores serem apresentados à paisagem pós-pandêmica por meio do tempo que Joel passou na zona de quarentena de Boston, uma comunidade militarizada supervisionada pela FEDRA onde civis estão tentando sobreviver à cruel realidade. 

“Em The Last of Us, onde a natureza volta a dominar a sociedade, tentamos realçar a beleza, o tom e a atmosfera da iluminação natural”, afirmou o diretor de arte da Naughty Dog, Erick Pangilinan. “Quando apresentamos a zona de quarentena, tiramos todas as plantas. Tiramos toda a vida natural. Você não verá muitas árvores ou grama nessa área. Tudo é bastante estéril e artificial, e você pode ver como a situação na zona de quarentena é miserável.”

“O clima na zona de quarentena de Boston é opressor, e queremos expressar isso corretamente em tudo que você pode ver. Assim que sai para a rua, você vê homens armados e cercas por todo lado impedindo que você vá a qualquer lugar diferente do que o governo quer”, afirmou o Animador Cinematográfico Chefe, Bryant Wilson.

As equipes da Naughty Dog, (a de 2013, que trabalhou no lançamento original de The Last of Us, e a do remake de The Last of Us™ Part I) precisaram levar em consideração como as primeiras impressões poderiam comunicar de imediato o tom e a atmosfera da zona de quarentena de Boston e o estilo de vida enfrentado por tantos sobreviventes.

“Aquela primeira rua [na zona de quarentena] tem um papel importante na criação do mundo em que eles estão. As pessoas são tiradas de suas casas e forçadas a passar por um teste de infecção. Ao jogar essa parte, você tem a opção de se sentar e observar, ou apenas passar direto. Isso não é algo que forçamos o jogador a olhar, o que é proposital”, afirmou Wilson. “É uma realidade desse mundo.”

“A zona de quarentena mostra o homem tentando controlar outras pessoas, o mundo e a natureza”, afirmou Pangilinan. “Muitos materiais na zona de quarentena são angulares e rígidos. Nós gostamos de desenvolver a tensão de ter essa organização opressiva controlando a rotina diária.”

Evocar o tom dessa parte do mundo e as difíceis realidades que os sobreviventes enfrentam sob o controle da FEDRA é possível por meio de cada escolha artística, animação e momento que a equipe de desenvolvimento produz para dar vida ao mundo pós-pandêmico.

“A iluminação nessa área é bem azulada e nublada. Nós gostamos de desenvolver uma atmosfera similar à da prisão… na zona de quarentena, as pessoas são muito frustradas. Queríamos ressaltar a frustração e a falta de esperança deles”, afirmou Pangilinan. “Isso também é visível no mercado. Ao tentar projetá-lo, queríamos ter certeza de que o local parecia desesperador e escasso. Com o único objetivo de sobreviver, as pessoas estão vendendo ratos e sucata porque é tudo que têm.”

A zona de quarentena de Boston tem a importante função, no contexto da história de The Last of Us, de introduzir os jogadores ao estado do mundo dessa era. Ao considerar como preservar e, ao mesmo tempo, refinar essa experiência em The Last of Us™ Part I, a equipe de desenvolvimento se esforçou para dar vida ao mundo com detalhes mais ricos, mas não simplesmente adicionar mais coisas.

“A primeira pergunta que fazemos é ‘qual foi a intenção original dessa cena?’, como é o caso do mercado da zona de quarentena. É fácil demais enchê-lo de produtos”, afirmou Pangilinan. “Mas o objetivo da cena era mostrar a escassez da vida na zona de quarentena e como as pessoas estavam desesperadas. Era muito importante mostrar o que elas comiam e vendiam, além de como o mercado era organizado para ser possível guardar tudo e fugir, caso fossem pegos.

A ideia de aperfeiçoar e melhorar os detalhes em vez de inserir novos em excesso guiou nossa equipe para que o remake mantivesse o tom e a honestidade emocional da história original do Part I.

“Se havia alguma animação que pudéssemos melhorar, nós melhoramos, mas não queríamos adicionar muita coisa, principalmente para não arruinar a emoção do original”, explicou Wilson. “Cada animação foi retocada, refeita, retrabalhada e aprimorada, mesmo de maneiras que podem não ser percebidas imediatamente.”

The Last of Us na HBO apresentou a zona de quarentena de Boston aos espectadores na estreia, e, como o produtor executivo Druckmann explicou, concedeu uma de muitas oportunidades para mostrar o mundo de TLOU de diferentes pontos de vista.

“Com a série, tivemos essa oportunidade de nos desligar dos protagonistas e nos conectar a outros personagens”, afirmou. “Você vê a Marlene conversando com a nova personagem Kim, e conseguimos dar mais detalhes [da Marlene] e ver como ela lida com a posição de líder dos Vaga-lumes de uma forma que não pudemos no jogo. Ficamos sabendo disso superficialmente, mas agora conseguimos ver o drama contra o qual a personagem está lutando e a pressão que ela sente entre as diferentes partes do trabalho dela.”

“Uma das coisas que mais gostei foi poder externalizar certos detalhes sobre a vida e as experiências dela que estavam trancadas apenas na minha imaginação”, explicou Merle Dandridge, que interpreta Marlene no jogo e na série. “É óbvio que tivemos várias conversas, imaginamos, sonhamos e pensamos sobre quem ela era e por onde esteve. O público poderá ver coisas novas, mas ainda imersas na verdade de quem ela é e de onde veio.”

Mesmo com elementos familiares, como Marlene e a zona de quarentena, a série da HBO encontra novo terreno para examinar o mundo de The Last of Us por uma nova perspectiva. E isso também vale para outro ambiente que os fãs do jogo reconhecerão.

Beleza no Perigo

Em contraste aos prédios angulosos, às ruas da cidade sem natureza e à paleta de cores sombria da zona de quarentena, a Cidade do Bill em The Last of Us™ Part I é revigorante, apesar do perigo à espreita. Na abandonada cidade de Massachusetts, Bill, que dá nome à cidade, criou praticamente um labirinto intricado de armadilhas e alarmes para se manter em segurança em uma área quase desprovida de vida humana, mas cheia do perigo em potencial dos Infectados. 

Mas, apesar da ameaça iminente, a Cidade do Bill é uma oportunidade para os jogadores verem o mundo de The Last of Us ganhar vida. A bela luz natural inunda as casas abandonadas cobertas pela flora natural.

“Esse é o mundo que um único homem tem mantido e dá ao jogador um pouco de tempo para respirar e observar essa bela área”, explicou Wilson. “Agora a liberdade é assim. É perigosa, mas tem sua beleza onde o mundo natural voltou e dominou.”

“A Cidade do Bill transmite uma sensação de isolacionismo; é o castelo e domínio de uma só pessoa. Ele controla o que entra e sai. E a natureza é uma das coisas que podem entrar e sair da cidade. Então queríamos criar a Cidade do Bill como um cenário acolhedor, com o pôr do sol brilhando por entre a natureza e os edifícios”, afirmou Pangilinan. “Cria-se essa estética diferente para contrastar com o lugar onde você estava antes, os túneis e o esgoto, que são escuros e perigosos.”

Mas, como qualquer decisão relativa às ambições artísticas de determinada parte de The Last of Us, no fundo, o mundo ao redor do jogador se reflete na história e nos personagens.

“Na Cidade do Bill, ele deixa a natureza seguir seu rumo, mas também criou uma espécie de zona de quarentena para si. Nós queríamos criar essa mistura que representa o equilíbrio entre a natureza e o homem”, afirmou Pangilinan. “Mas a Cidade do Bill também representa o Joel. Ela representa a mente, o isolacionismo e o lado paranoico da personalidade dele. Por isso a representamos com muros, armadilhas, muitas coisas que são acionadas, um lugar que resiste e enfrenta para que a cidade possa ficar isolada.

Claro, como os que assistiram ao terceiro episódio de The Last of Us na HBO sabem, a Cidade do Bill ainda é retratada, em essência, como a fortaleza pessoal dele, mas a forma com a qual os espectadores a conhecem é bem diferente do jogo. Em vez de mostrá-la sob a perspectiva de Joel e Ellie, a série volta ao passado para podermos assistir a Bill (Nick Offerman) e Frank (Murray Bartlett) se apaixonarem e viverem suas vidas. Isso muda a experiência de como os fãs aprendem sobre essa parte do mundo, mas retém os personagens e a emoção em um formato que se adequa melhor ao novo meio.

“A Cidade do Bill é interessante porque ela é ótima no jogo e é uma grande descoberta. Você vai a esse lugar curioso que é um ambiente diferente da zona de quarentena onde você mora. É uma pequena cidade em Massachusetts. Você conhece um cara engraçado, rabugento e estranho, e logo o jogo continua”, o produtor executivo, Craig Mazin, explicou sobre a mudança de direção da série. 

“Existe uma discussão filosófica entre esses personagens, Bill e Frank, que foi mencionada no jogo e muito expandida na série. Sim, você pode sobreviver, mas com que objetivo?”, afirmou Druckmann. “É então que as duas filosofias são apresentadas, e a posição do Bill é: ‘Esse é o objetivo. O objetivo é a sobrevivência’. Enquanto o Frank defende: ‘Não, a vida não é só isso’. No jogo, eles se desentendem, e Frank vai embora. E nas conversas [entre o Craig e eu], pensamos que seria interessante mostrar o oposto dessa visão na série.”

“Eu pensei que havia outro modo de refletir sobre isso [essa parte do jogo e sua mensagem], que é o fato de Joel e Ellie serem duas pessoas que amam de formas diferentes”, explicou Mazin. “E há um ótimo argumento sobre a importância de serem necessários ambos os tipos de pessoas, as que deixam explícito que amam e aquelas cujo amor é protetor. As duas podem causar problemas. Além disso, foi uma oportunidade interessante de expandir a narrativa do Bill e do Frank de uma forma que não vimos [no jogo].”

As representações dessa parte de The Last of Us divergem, dando aos fãs do jogo uma experiência completamente diferente no episódio, enquanto os que foram apresentados a Bill e Frank na série passam a ver essa parte do mundo sob outra perspectiva ao jogar o jogo. Mas tudo isso é fundamentado no desejo de criar esses personagens inesquecíveis, o significado das histórias deles e como as relações impactam a vida deles. E é uma perspectiva alternativa que Druckmann recebeu de braços abertos quando Mazin a apresentou, principalmente porque permitiu que a série apresentasse mais concepções do mundo além das de Joel e Ellie, ao mesmo tempo em que repercute na história deles.

“Eu senti muito medo quando mandei para o Neil, porque… seria diferente do original, mas ele amou. Ele respondeu: ‘Este é meu favorito até agora'”, afirmou Mazin. “Isso é prova de… quanto espaço ele criou para que eu pudesse experimentar e pensar em coisas novas.”

“A tragédia desse episódio é o bilhete que Bill deixa para Joel, que significa ‘Este é o seu trabalho. Você precisa fazer isso com a Tess’. Joel recebe essa mensagem tarde demais, e é quando a mudança acontece”, afirmou Druckmann. Ele pensa ‘Bom, era tarde demais para a Tess. Talvez não seja tarde demais para essa criança’, e é por essa mudança de mentalidade que ele passa no final do episódio. Sem explicitar isso, todo o episódio de Bill e Frank reflete na história de Joel e Ellie e faz você entender a importante escolha que Joel está fazendo no momento.”

Para Druckmann, tudo era uma questão de adaptar a história na qual a equipe da Naughty Dog havia trabalhado de uma forma que se adequasse ao novo meio. Dessa forma, ele espera que seja uma experiência que cause impacto quando os espectadores da série jogarem The Last of Us.

“Não há interação nenhuma em uma série de televisão, só os espectadores se sentarem, assistirem e se divertirem. Mas é preciso elevar o drama por causa disso”, explicou Druckmann. “Isso nos permitiu, de certa forma, tornar o mundo e os personagens mais ricos. Eu ouvi pessoas que voltaram a jogar depois de assistirem à série comentarem que o jogo parece muito mais rico.”

E, se você já começou ou planeja voltar ao jogo, The Last of Us Part I está disponível no PS5 e em pré-venda para PC via Steam e Epic Games Store, com lançamento em 28 de março. Para mais informações sobre The Last of Us e a adaptação para televisão, confira nossa análise sobre a abertura inesquecível de The Last of Us e detalhes de como a Naughty Dog deu vida aos Estaladores de The Last of Us.

Os comentários estão fechados.

Por favor, informe a sua data de nascimento.

Date of birth fields